Depois de Kawhi Leonard ser mandado para Toronto, uma outra novela que já vem se arrastando há algum tempo na NBA chegou perto de um fim. O Oklahoma City Thunder finalmente conseguiu emplacar uma troca para se livrar de Carmelo Anthony. Só não dá para dizer que foi o último capítulo desta história porque ainda falta o jogador definir onde vai jogar, uma vez que ele será dispensado pelo Atlanta Hawks. De acordo com o jornalista Adrian Wojanorwki, da ESPN dos EUA, o Houston Rockets é o favorito nesta disputa pelos serviços de Carmelo, enquanto o Miami Heat corre por fora.
Mas a imagem que ilustra esse texto não é de Dennis Schroder, jogador que está chegando a Oklahoma. É melhor falar de Carmelo com mais profundidade, tentando avaliar o que ele ainda pode fazer na NBA, quando seu destino for definido. Neste primeiro momento, com relação à troca em si, vale mais a pena observar com maior atenção as outras peças do negócio.
Antes de mais nada, então, é bom esclarecer como aconteceu essa troca, que acabou envolvendo três times:
* Atlanta Hawks recebeu: Carmelo Anthony (US$ 27,9 milhões, contrato expirante), Justin Anderson (US$ 2,5 milhões na temporada 2018/19) e uma escolha de primeira rodada do Draft de 2022 (protegida para as primeiras 14 posições)
* Oklahoma City Thunder recebeu: Dennis Schroder (US$ 15,5 milhões por ano até 2021) e Timothe Luwawu-Cabarrot (US$ 1,8 milhões na temporada 2018/19, com “team option” para a próxima)
* Philadelphia 76ers recebeu: Mike Muscala (US$ 5 milhões, contrato expirante)
Vamos começar pela parte que menos chama a atenção nisso tudo. O Sixers abriu mão de dois jovens que não estavam entre as peças mais utilizadas no time da temporada passada. Anderson e Luwawu-Cabarrot não tiveram mais do que 15 minutos de ação por jogo. Então nem foi um problema grande deixá-los ir embora para contar com um jogador que pode ocupar um espaço um pouco maior na rotação. Muscala é um homem de garrafão que tem no arremesso de longa distância seu ponto forte. É alguém que pode exercer mais ou menos o papel que vinha sendo de Ersan Ilyasova: o “stretch 4” que sai do banco para passar uma boa parte do tempo ajudando a abrir a quadra para Ben Simmons e Joel Embiid. Além disso, Muscala é bom reboteiro e um defensor inteligente o bastante para se encaixar no sistema de Brett Brown.
Pode ser que um dia Luwawu-Cabarrot e Anderson explodam em algum outro lugar? Talvez. Mas está na hora de o Sixers pensar um pouco mais no presente e romper com apostas que não pareçam tão promissoras assim. A viagem à semifinal do Leste e a sensação geral de que esse time pode brigar pelo topo em um Leste totalmente aberto após a saída de LeBron James mostram isso.
Para o Hawks, dá para dizer que a troca foi uma grande sacada para o caminho que a franquia decidiu seguir. A escolha de Trae Young no Draft veio para confirmar uma sensação que já parecia clara na temporada passada: a de que a experiência com Schroder como o dono da armação não era lá muito animadora. Em um primeiro momento, é normal que cause estranheza essa disposição em absorver esse contrato gigantesco de Carmelo só para dispensá-lo logo em seguida. Mas está tudo bem, na verdade. O time estava bem abaixo do teto salarial, portanto tinha condição de quebrar esse galho para o Thunder. Como agradecimento, ganhou uma escolha de primeira rodada do Draft de 2022.
Mas talvez o grande alívio para o Hawks nesta história tenha sido mesmo se desfazer de Schroder. É claro que o salário de Carmelo é bem mais gordo, mas contará na folha salarial só por uma temporada. Não por mais três, como é o caso do armador alemão. Ou seja: o time poderá dar minutos aos jovens que realmente deseja apostar enquanto desenvolve flexibilidade financeira bem maior para o futuro. Ao invés de desembolsar US$ 15 milhões por ano até 2021 a um jogador que não está muito nos planos, o Hawks resolveu pagar essa conta toda de uma vez para estar livre dela daqui a um ano.
O que nos leva ao Thunder. Antes de trocar Carmelo, com todas as renovações de contrato que fez com seus agentes livres, a franquia tinha a maior folha salarial da NBA. O valor ultrapassava em cerca de US$ 36 milhões a “luxury tax”. O que levaria a um pagamento de aproximadamente US$ 154 milhões em multas, de acordo com as regras salariais da NBA. É por isso que prioridade nesta “offseason”, depois de manter Paul George, era se desfazer de Carmelo. Não fazia sentido abrir tanto a carteira assim por um jogador que tinha machucado a equipe nos playoffs.
The #Thunder are now $36M over the luxury cap, which equates to a tax bill north of $154M (previous high were the 2013-14 #Nets at $90.6M).
Stretching (waiving) Carmelo Anthony saves $17.1M in cap, and around $90M in tax payment (assuming he’s replaced by a minimum salary).
— Spotrac (@spotrac) July 3, 2018
A grande questão nisso aí seria como se livrar de Carmelo. Dispensar só por dispensar não adiantaria nada, já que o contrato continuaria a ser pago até o fim. A opção de usar a “stretch provision”, que dividiria o pagamento destes quase US$ 28 milhões do contrato do jogador por mais tempo, também não parecia muito sedutora. Afinal de contas, por mais que isso rendesse uma economia de imediato, o nome de Carmelo apareceria na folha salarial da franquia até 2021. Neste caso, o Thunder pagaria pouco mais de US$ 9 milhões ao jogador nesta próxima temporada e também nas duas seguintes. Tudo isso para não contar com ele.
Haveria ainda a possibilidade de se negociar um “buyout”. Carmelo precisaria aceitar um acordo para receber um pouco menos do que ainda tem direito em seu contrato. Aí, seria dispensado e poderia assinar com quem bem entendesse por um valor qualquer. A vantagem para o Thunder neste caso seria justamente a de conseguir um desconto nesta negociação. Quanto maior esse desconto, maior a economia dos gastos para o próximo ano, mas menos dinheiro entraria nos bolsos do jogador.
A única certeza é que o Thunder queria se desfazer de Carmelo para reduzir o quanto fosse possível o enorme gasto em multas que terá ao longo da temporada 2018/19. Restava apenas encontrar o melhor meio de se chegar a esse objetivo. No fim das contas, o gerente-geral da franquia, Sam Presti, julgou que essa troca com o Hawks era uma opção mais interessante do que as demais.
Conforme Woj divulgou no Twitter logo após o anúncio da negociação, o Thunder vai reduzir em quase US$ 100 milhões o gasto em multas à NBA por extrapolar a “luxury tax”. Ele ainda fez uma relação curiosa entre os compromissos salariais com Schroder e a “stretch provision” que poderia ser usada com Carmelo. De acordo com o raciocínio dele, é melhor manter US$ 15,5 milhões na folha salarial até 2021 por uma peça que pode ser útil de algum jeito do que pagar pouco mais de US$ 9 milhões por alguém que não entrará em quadra.
Tremendous save for OKC: Thunder get massive salary and luxury tax savings — nearly $100M — w/o stretching Anthony’s $28M. That deal would’ve left $9M-plus on books next three years, so Schroder $15.5M per year becomes bargain — and an asset that could stay or be traded again.
— Adrian Wojnarowski (@wojespn) July 19, 2018
Mas é bom ir com calma aí — até porque Woj usa a palavra “barganha” para definir esse contrato de Schroder. O Thunder imagina que o armador será um membro importante na rotação a partir do momento em que chegar a Oklahoma. Antes mesmo de a negociação ser concretizada, Sam Presti e o técnico Billy Donovan chegaram a se encontrar com Schroder para discutir o papel que ele virá a ter com a equipe, com o intuito de esclarecer que ele sairá do banco.
Em um mundo ideal, seria ótimo mesmo ter um armador reserva explosivo e capaz de criar jogadas com a bola nas mãos, oferecendo minutos sagrados de descanso a Russell Westbrook nas partidas. O problema é que esse armador morderá US$ 15,5 milhões da folha salarial da franquia nas próximas três temporadas e tem características que o tornam um encaixe difícil ao lado do MVP de 2017.
Como será nos minutos que eles precisarem dividir a quadra juntos? Conseguirão render de algum jeito sem a bola quando o outro estiver no comando das ações? É um tipo de dúvida bem preocupante em uma equipe que sofreu justamente com isso na última temporada. Para atender ao desejo de alcançar alguma melhora em relação a como se despediu da última temporada, o Thunder precisava era de gente que pudesse colocar ao lado de Westbrook tranquilamente, não de mais uma peça de encaixe complicado.
De qualquer maneira, pelo menos neste próximo ano, o certo é que o Thunder vai economizar uma boa grana. Em um primeiro momento, o problema está resolvido. Se isso voltará a incomodar ou não mais tarde, aí vai depender do quanto Schroder for capaz de render na nova casa. E as condições para isso não são lá muito favoráveis. O que quer dizer que existe um risco considerável de Sam Presti precisar se virar para resolver um outro desafio financeiro daqui a um tempo.